quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Reforma ortográfica: fique a par das novas regras

Reforma ortográfica do Português: e agora?

por Benjamim Linhares Machado Marchi



0. INTRODUÇÃO


No dia 29 de setembro de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto que estabelece o cronograma de implantação do acordo ortográfico da Língua Portuguesa. Com isso, o Brasil se tornou o primeiro país a implementar oficialmente as novas regras, que passam a vigorar a partir de 1° de janeiro de 2009. No entanto, até 2012 ainda serão aceitas as regras antigas da língua portuguesa, ou seja, até 2012 será aceito tanto a grafia antiga como a unificada em documentos escritos no padrão formal de linguagem.

Serão modificadas aproximadamente 0,5% das palavras do Português do Brasil, uma porcentagem muito pequena se comparada a 1,6% de palavras modificadas no Português de Portugal. Essa reforma visa facilitar o intercâmbio cultural e científico entre os países membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) – Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor Leste. O objetivo da reforma é facilitar o intercâmbio entre os países falantes de língua portuguesa, simplificando a ortografia da língua, que é a única entre as quatro grandes línguas do mundo (Inglês, Francês, Português e Espanhol) que apresenta duas grafias oficiais.

Mas será que a reforma realmente facilitará o intercâmbio cultural e científico? Será que a existência de duas grafias oficiais dificulta tanto assim a troca cultural e científica entre os países da CPLP? Será que o custo de implementação dessa reforma (com reeditoração de livros, formação de professores e implementação de medidas educacionais, entre outros gastos) é realmente ínfimo se comparado aos benefícios que ela trará? Será que as disparidades entre as duas grafias oficiais do Português são tão grandes a ponto de ser necessária uma reforma unificadora? Será que as disparidades das grafias não são um objeto de identificação cultural e a unificação viria a destruir isso? Essas são algumas questões acerca da reforma ortográfica que merecem reflexão, pois é preciso que cada falante do Português se pergunte: é realmente preciso unificar a língua portuguesa?

Seguem abaixo as mudanças que ocorrerão na língua:


  1. ALFABETO


O alfabeto português passará a ter 26 letras: serão incluídas as letras K, W e Y. Porém, o emprego dessas letras se restringe à:

a) Palavras oriundas de nomes próprios estrangeiros de pessoas

b) Palavras oriundas de nomes próprios estrangieros de lugares

c) Abreviaturas, síbolos, siglas e palavras adotadas como unidades de medida internacionais.

d) Palavras e nomes estrangeiros e seus derivados.


  1. ACENTUAÇÃO GRÁFICA


No geral, as regras continuam as mesmas, com exceção de alguns casos (que serão apontados) e do trema, que não será mais usado. Segue abaixo o que muda:

a) Os ditongos “ei” e “oi” das sílabas tônicas das palavras paroxítonas não receberão mais acento, já que a pronuncia varia em muitos casos: alcaloide, alcateia, androide, assembleia, boia, boleia, colmeia, Coreia, debiloide, geleia, joia, paranoia, tramoia, etc...

OBS: Continuam sendo acentuadas as oxítonas terminadas em éis, éu(s) e ói(s), como pastéis, troféu(s), herói(s), ou monossílabos tônicos, como i, réu, réis.

b) As paroxítonas com vogais “i” e “u” tônicas precedidas de ditongo também não receberão mais acento: baiuca, bocaiuva, feiura, etc...

OBS: O acento permanece quando as palavras forem oxítonas, com o “i” e o “u” em posição final, seguidos ou não de “s”, como Piauí e tuiuiú(s).

c) O hiato “oo” deixa de receber acento nas palavras paroxítonas: abençoo, voo, enjoo, magoo, perdoo, etc...

d) O hiato “eem” da terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou subjuntivo dos verbos dar, crer, ler, ver (e seus derivados) não será mais acentuado: creem, leem, deem, veem.

e) O “u” tônico dos verbos arguir e redarguir conjugados na segunda pessoa do singular e na terceira pessoa do singular e do plural do presente do indicativo não será mais acentuado: (tú) arguis, (ele) argui, (eles) arguem.

f) Os verbos do tipo aguar, apaniguar, apaziguar, apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir, e seus afins, por permitirem duas possibilidades de pronúncia – com tonicidade na vogal “u” ou nas vogais “a”/”i” -, permitem duas formas de acentuação. Quando a tonicidade se der na vogal “u” (averigUo) ela não deve ser acentuada. Quando a tonicidade se der nas vogais “a”/”i” (enxÁguo/averÍguo) elas devem ser acentuadas.

g) Os acentos diferencias serão abolidos: Pára (verbo) e para (preposição) serão grafadas sempre sem acento, por exemplo.

OBS: Essa regra possui quatro exceções: pôr (verbo) e por (preposição), pôde (verbo conjugado no pretérito perfeito do indicativo, na terceira pessoa do singular) e pode (verbo conjugado no presente do indicativo, na terceira pessoa do singular), os verbos ter e vir que continuam tendo o acento para diferenciar plural de singular.

E duas formas facultativas: fôrma (substantivo) e forma (substantivo ou verbo conjugado na terceira pessoa do singular do presente do indicativo ou na segunda pessoa do singular do imperativo), dêmos (verbo conjugado no presente do subjuntivo, na primeira pessoa do plural) e demos (verbo conjugado no pretérito perfeito do indicativo, na primeira pessoa do plural).

h) Trema: Não existe mais trema, com exceção de palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros (hübneriano, mülleriano).


  1. HÍFEN


Nada mudará em:

a) Substantivos compostos (pé-de-moleque), casos de colocação pronominal (falou-lhe) e os sufixos de origem tupi-guarani açu, guaçu e mirim (capim-açu, Mogi-mirim).

b) Formações com prefixos, ou com palavras que funcionem como prefixos, em que o segundo elemento começa com “h”: anti-higiênico, anti-histórico, pré-história, sobre-humano, super-homem.

OBS: Essa regra possui uma exceção, a palavra “subumano”, na qual a palavra “humano” perde o “h”.

c) Vocábulos com os refixus circum e pan e o segundo elemento iniciado por vogal, “m” ou “n”: pan-americano, circum-escolar, circum-navegação.

d) Casos com os prefixos hiper, inter, sub e super, quando o segundo elemento começa pela mesma consoante. No caso de sub, usa-se hífen também quando a palavra for iniciada por “r”, como em “sub-região”: hiper-requintado, inter-racial, inter-regional, super-racista, super-romântico, etc...

e) Em palavras com os prefixos além, aquém, ex, recém, sem, soto e vice: além-mar, aquém-mar, ex-aluno, recém-casado, sem-terra, soto-piloto, vice-versa, etc...

f) Em verbetes com os prefixos tônicos acentuados pós, pré e pró seguidos de palavras independentes: pós-graduação, pré-escola, pró-americano, etc...

g) Ligação de duas ou mais palavras que formam encadeamentos de vocábulos (“eixo Rio-São Paulo”).


Não se usa hífen em:

a) Palavras em que o primeiro verbete termina com consoante e o segundo com vogal: hiperativo, interestadual, superamigo, etc...


O que muda:


O hífen será eliminado nos casos em que o prefixo termina em vogal e o segundo elemento se inicia por “r”, “s” ou vogal diferente (antirrábico, antissocial, aeroespacial)*. Por outro lado, nas palavras em que o prefixo termina com a mesma vogal que inicia o segundo elemento, o uso hífen será obrigatório (anti-ibérico, anti-imperialista, contra-atacar, etc...). A exceção é o prefixo “co”, que se junta a outra palavra mesmo que ela se inicie por “o” (coordenar, cooperar, etc...).

*Vale ressaltar que nas palavras em que o primeiro elemento termina com vogal e o segundo se inicia com “r” ou “s” será necessária a duplicação do “r” ou do “s”, por motivos de convenção ortográfica: antiSSocial, antiRRábico, etc...


  1. LETRAS MAIÚSCULAS


As regras continuam as mesmas, com exceção de nomes de vias e lugares públicos e os que designam artes, ciências e disciplinas, que poderão ser escritos com iniciais miúsculas ou minúculas.


QUER SABER MAIS?

Visite o site da CPLP: http//:www.cplp.org

Um comentário:

Arte da Luluzinha disse...

Aqui em Portugal parecem não estar muito contentes com a reforma. Eu particularmente gostei.
Mas gostando ou não, já é lei e penso que os meios de comunicação daqui já deveriam estar usando a nova grafia, afinal são eles um meio de comunicação.
Enfim!